quinta-feira, 1 de novembro de 2012


Nunca representaste muito bem o papel que te cabia, penso que nunca sequer tiveste dom para isso. Talvez até o tivesses se tentasses levar o rumo da tua vida de forma diferente mas tu, Deus, o destino ou que quer que seja não quis que fosse dessa maneira. Sabes que podias ser tudo o que quisesses, voar até onde te apetecesse, ter o carinho, o amor e o respeito daqueles que por ti fariam tudo mas que ao invés disso, preferiste pisar e magoar continuamente ao longo da vida. 
Sempre viveste de forma excêntrica e irresponsável, não seria de esperar que não mantivesses essa atitude até ao fim... E foi exactamente aquilo que fizeste. 
Aprendi desde sempre a viver sem ti, sem revoltas nem traumas, em paralelo com o "estigma" do que era ter-te como pai. Cresci e amadureci mais cedo por tua causa, com o tempo desenvolvi uma personalidade fria e ríspida mas não te culpo por isso, pelo contrário. Indirectamente ensinaste-me a criar uma protecção, uma defesa contra as pessoas. Achava eu que o meu sentimento por ti se definia por um misto de desprezo, indiferença e pena... 
Até que tu partes... E aí o meu mundo deixa-se abalar de uma maneira como nunca imaginei que acontecesse nesta situação. Fui obrigada a dar razão a uma frase que sempre contra-argumentei com unhas e dentes: "pai é pai"... Nunca pensei que me custasse tanto ver-te desaparecer e saber que mesmo que eu quisesse nunca mais te poderia ver nem falar contigo, que nunca poderia mudar algumas coisas nem saber a resposta de algumas perguntas que ficaram por responder e que me ficarão para sempre na cabeça. Foi a sensação mais estranha da minha vida. 
Cheguei a pôr isso em causa mas eu sei que à tua maneira, tu nos amavas, e nós também sempre te amamos apesar de tudo. Todos os pais são diferentes, uns mais carinhosos e atentos do que outros, outros mais severos e rígidos. Tu foste longe de ser o melhor pai do mundo mas foste e continuarás a ser sempre o meu pai. E perdoei-te tudo aquilo que havia para perdoar...


Descansa em paz Pai.


Uma pessoa só morre quando deixa de ser lembrada *
10.09.2012

1 comentário:

  1. Foi realmente uma coisa muito estranha, muito repentina por sinal, foi uma fase difícil para ti, notou-se bem, mas a verdade é uma, um dia também será para todos nós!
    Adorei a forma como descreves esta situação e principalmente a forma como ele te amou e te tratou a vida toda (era a forma dele), este momento que começa agora a ser ultrapassado e a tornar-se um assunto mais suave... acredita que até a mim me custou ver esse iceberg derreter :) mas sabes que sempre tentei fazer o melhor para te sentires bem, se calhar não o suficiente, mas o melhor que podia* beijinho grande pequena
    "uma pessoa só morre quando deixa de ser lembrada" *.*

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