sexta-feira, 4 de janeiro de 2013


"Nestas noites de Novembro, tenho dezasseis anos outra vez. Está a temperatura dessa idade e penso apenas em ti. A noite é tão respirável. Há um silêncio ameno pousado até nos ruídos mais bruscos. Tudo faz parte de um plano que não pode falhar porque tu és uma certeza. Estás à minha espera, eu sei. (...) Quando chegas, salvas-me de qualquer coisa que, acredito nesse momento, estava quase a afundar-se em mim. O teu olhar acerta no meu e o tempo serve para contar a velocidade a que nos aproximamos. Os teus lábios levam-te. Durante esse primeiro beijo, a cidade inteira desaparece à nossa volta. Existe a noite, continua a existir.
(...)
Temos os nossos segredos, vivemo-los. E, numa hora que escolhemos juntos, despedimo-nos sem medo. Teremos amanhã, teremos a próxima semana e o próximo ano mas, mais ainda, temos agora, este preciso momento em que estamos tão vivos.
Enquanto volto para casa, a cidade está toda à minha disposição. Posso regressar pelo caminho que escolher. Às vezes, decido seguir pelo mais longo. Nessas noites, em silêncio, os meus pensamentos são como os grãos de pó que flutuam ao domingo, atravessados por raios de sol. Se os atravesso com um braço, esses pequenos pontos iluminados começam a mover-se em trajectórias diferentes.
(...)
Caminho ainda com a tua voz em mim. Pedaços de expressões, o tom com que dizes certas palavras. A pouco e pouco, quando estou quase a chegar a casa, recupero a minha idade. Novembro continua e, por isso, deixo os dezasseis anos na rua. Conheço um lugar invisível para guardá-los. Amanhã, quando chegar a noite, talvez volte a usá-los. São perfeitos para te amar."
José Luís Peixoto


Estás-me a fazer viver algo de muito bonito.
Gosto de ti meu puto :')

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

sábado, 1 de dezembro de 2012









"Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares demais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer."


Miguel Sousa Tavares em "No teu deserto"









nunca se diz tudo o que se quer.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012


Nunca representaste muito bem o papel que te cabia, penso que nunca sequer tiveste dom para isso. Talvez até o tivesses se tentasses levar o rumo da tua vida de forma diferente mas tu, Deus, o destino ou que quer que seja não quis que fosse dessa maneira. Sabes que podias ser tudo o que quisesses, voar até onde te apetecesse, ter o carinho, o amor e o respeito daqueles que por ti fariam tudo mas que ao invés disso, preferiste pisar e magoar continuamente ao longo da vida. 
Sempre viveste de forma excêntrica e irresponsável, não seria de esperar que não mantivesses essa atitude até ao fim... E foi exactamente aquilo que fizeste. 
Aprendi desde sempre a viver sem ti, sem revoltas nem traumas, em paralelo com o "estigma" do que era ter-te como pai. Cresci e amadureci mais cedo por tua causa, com o tempo desenvolvi uma personalidade fria e ríspida mas não te culpo por isso, pelo contrário. Indirectamente ensinaste-me a criar uma protecção, uma defesa contra as pessoas. Achava eu que o meu sentimento por ti se definia por um misto de desprezo, indiferença e pena... 
Até que tu partes... E aí o meu mundo deixa-se abalar de uma maneira como nunca imaginei que acontecesse nesta situação. Fui obrigada a dar razão a uma frase que sempre contra-argumentei com unhas e dentes: "pai é pai"... Nunca pensei que me custasse tanto ver-te desaparecer e saber que mesmo que eu quisesse nunca mais te poderia ver nem falar contigo, que nunca poderia mudar algumas coisas nem saber a resposta de algumas perguntas que ficaram por responder e que me ficarão para sempre na cabeça. Foi a sensação mais estranha da minha vida. 
Cheguei a pôr isso em causa mas eu sei que à tua maneira, tu nos amavas, e nós também sempre te amamos apesar de tudo. Todos os pais são diferentes, uns mais carinhosos e atentos do que outros, outros mais severos e rígidos. Tu foste longe de ser o melhor pai do mundo mas foste e continuarás a ser sempre o meu pai. E perdoei-te tudo aquilo que havia para perdoar...


Descansa em paz Pai.


Uma pessoa só morre quando deixa de ser lembrada *
10.09.2012

quarta-feira, 1 de agosto de 2012



    "O amor eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam."


Eça de Queiroz
 (século XIX)




Realmente existem filosofias, pensamentos e afins, de facto, intemporais. Dois séculos volvidos e a essência da coisa permanece igual.


sábado, 28 de julho de 2012






"Para chorar é necessário ver. A mais pequenina dor que diante de nós se produza e diante de nós gema, põe na nossa alma uma comiseração e na nossa carne um arrepio, que lhe não dariam as mais pavorosas catástrofes passadas longe, noutro tempo ou sob outros céus."





Eça de Queiroz; Bilhetes de Paris 

sábado, 30 de junho de 2012





“Espero por ti porque acho que podes ser o homem da minha vida. E espero por ti porque sei esperar, porque nos genes ou na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por ti. E eu gosto de ouvir essa voz a embalar-me de noite antes de, tantas e tantas vezes, te encontrar nos meus sonhos, e a acalentar-me de manhã, quando um novo dia chega e me faz pensar o quão longa e inglória pode ser a minha espera.”

Margarida Rebelo Pinto



,,, why the fuck can't I just let you go? as simple like that...