"Nestas noites de Novembro, tenho dezasseis anos outra vez. Está a temperatura dessa idade e penso apenas em ti. A noite é tão respirável. Há um silêncio ameno pousado até nos ruídos mais bruscos. Tudo faz parte de um plano que não pode falhar porque tu és uma certeza. Estás à minha espera, eu sei. (...) Quando chegas, salvas-me de qualquer coisa que, acredito nesse momento, estava quase a afundar-se em mim. O teu olhar acerta no meu e o tempo serve para contar a velocidade a que nos aproximamos. Os teus lábios levam-te. Durante esse primeiro beijo, a cidade inteira desaparece à nossa volta. Existe a noite, continua a existir.
(...)
Temos os nossos segredos, vivemo-los. E, numa hora que escolhemos juntos, despedimo-nos sem medo. Teremos amanhã, teremos a próxima semana e o próximo ano mas, mais ainda, temos agora, este preciso momento em que estamos tão vivos.
Enquanto volto para casa, a cidade está toda à minha disposição. Posso regressar pelo caminho que escolher. Às vezes, decido seguir pelo mais longo. Nessas noites, em silêncio, os meus pensamentos são como os grãos de pó que flutuam ao domingo, atravessados por raios de sol. Se os atravesso com um braço, esses pequenos pontos iluminados começam a mover-se em trajectórias diferentes.
(...)
Caminho ainda com a tua voz em mim. Pedaços de expressões, o tom com que dizes certas palavras. A pouco e pouco, quando estou quase a chegar a casa, recupero a minha idade. Novembro continua e, por isso, deixo os dezasseis anos na rua. Conheço um lugar invisível para guardá-los. Amanhã, quando chegar a noite, talvez volte a usá-los. São perfeitos para te amar."
José Luís Peixoto
Estás-me a fazer viver algo de muito bonito.Gosto de ti meu puto :')